Música
Opinião: Beyoncé não ganhou o ‘Álbum do ano’ e o Yolo te conta porquê
Neste artigo de opinião, vamos explorar os motivos que levaram Beyoncé a perder a sua quarta indicação a ‘Álbum do ano’ e o que leva artistas como Harry Styles a ganharem na primeira oportunidade (Spoiler: não é por ele ser ex-membro de boyband).
[Este é um artigo de opinião]
No dia 06 de fevereiro de 2023, depois de Beyoncé atingir a marca de 32 gramofones e se tornar a pessoa mais premiada da história da academia, as redes sociais acordaram com a seguinte pergunta:
“Por que vocês estão reclamando que a Beyoncé não ganhou Álbum do ano? Ela tem 32 prêmios!”
Neste artigo de opinião, vamos explorar os motivos que levaram Beyoncé a perder a sua quarta indicação a ‘Álbum do ano’ e o que leva artistas como Harry Styles a ganharem na primeira oportunidade (Spoiler: não é por ele ser ex-membro de boyband).
As categorias do grammy
A Academia de gravação apresenta anualmente uma premiação com 91 categorias. Mas, na realidade, as pessoas realmente se importam com as quatro mais relevantes: ‘Música do ano’, ‘Gravação do ano’, ‘Artista revelação’ e ‘Álbum do ano’.
A diferente importância dada a categorias “menores” ou “maiores” é facilmente representada pela indicação de Anitta em Artista Revelação. Em qualquer transmissão e cobertura brasileira da premiação, Anitta era tudo que se falava, colocando a artista como ‘A’ representação brasileira que não era vista há anos no Grammy. Porém, outros artistas brasileiros estavam indicados, inclusive, o grupo Boca Livre que ganhou o gramofone de ‘Melhor Álbum de Pop Latino’.
Além disso, o número de categorias espelha a separação e discriminação incentivada pela Academia. Isso porque, a maioria dos prêmios são nichados, impedindo que minorias sejam premiadas nas categorias principais – mesmo que estes artistas sejam mais “merecedores” do que os ganhadores oficiais.
A ilusão da qualidade
Oscar, Grammy e Emmy – respectivamente premiações das Academias de Artes e Ciências Cinematográficas, de Gravação e de Televisão – trazem a ilusão de que os premiados são objetivamente os melhores. As votações desses prêmios são extremamente complicadas e, em algum nível, até mesmo secretas.
Na Academia de Gravação, não são todos os membros da Academia que possuem o poder de voto. Na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o esquema de votação e indicação por preferência torna o sistema confuso e acaba premiando o consenso entre os votantes. Na Academia de Televisão, os votantes escolhem os ganhadores apenas em suas áreas de especialidade.
Todo o mistério e desinformação sobre como os indicados e premiados são escolhidos cria a imagem das academias como uma entidade que tem o poder de nomear qual obra é boa ou não. Porém, esse conceito pode ser contestado anualmente com a temporada de premiações. O público opina sobre quais obras ou artistas deveriam ter sido citados e valorizados, mas sabem que as suas opiniões valem perto de nada para essas instituições.
O caso Beyoncé
Beyoncé é a pessoa – não só mulher – com mais gramofones desde a criação do prêmio. Beyoncé é, também, o maior exemplo da absurda discriminação da Academia de Gravação contra minorias, nesse caso específico, contra mulheres negras. A artista tem 88 indicações e ganhou 32 Grammys, sendo apenas um deles em uma das quatro principais categorias. A música ‘Single Ladies (Put A Ring On It)’ ganhou ‘Música do Ano’ em 2010.
Beyoncé foi indicada à categoria mais importante da noite quatro vezes, sendo favorita para três Álbuns do Ano. “I Am… Sasha Fierce”, “Beyoncé”, “Lemonade” e “Renaissance” perderam para “Fearless”, de Taylor Swift, “Morning Phase”, de Beck, “25”, de Adele e “Harry’s House”, de Harry Styles. Todos os álbuns premiados sendo de pessoas brancas.
Independentemente da grande inovação, qualidade, produção e atenção a detalhes – uma das características mais conhecidas de Beyoncé -, nada parece o suficiente para que a texana ganhe o prêmio da noite. Além disso, para a Academia, parece não importar qual o gênero musical Beyoncé está experimentando. Na maioria dos anos, ela é encaixada em “urban”, “R&B” ou “rap”.
O rapper Tyler The Creator já apontou a discriminação da Academia com a música de artistas negros. Ele acusou a instituição de só indicar estes artistas em categorias feitas especificamente para eles. Assim, impedindo que ganhem prêmios “gerais”.
A analogia apresentada por Tyler na entrevista mostra exatamente como Beyoncé e outros artistas se sentiram. O rapper Bad bunny, latino e também “segregado” pelo Grammy, pareceu incomodado na premiação, talvez se sentindo como o primo que recebe o controle do videogame desligado enquanto todo mundo joga de verdade.
Por quê Beyoncé não ganhou o Álbum do Ano?
O aspecto a ser considerado aqui não é simplesmente o fato de que Beyoncé já deveria ter ganhado o Álbum do Ano, mas sim o fato de que a academia de gravação não tem sequer o interesse de premiá-la na categoria.
A última mulher negra a ganhar o Grammy de Álbum do Ano foi Lauryn Hill, em 1999, com “The Miseducation of Lauryn Hill”. Em 2022, Jon Batiste ganhou a categoria, sendo o primeiro artista negro a ganhar o “Álbum do Ano” em 14 anos.
Essas “marcas” tem um gosto agridoce para as minorias que as possuem. Em 2023, é doloroso ouvir que, caso Beyoncé ganhasse, seria a primeira mulher negra a receber este prêmio específico desde 1999 e a quarta ganhadora negra desde a criação da premiação.
Em 2023, é cruel que Kim petras e Liniker sejam as primeiras mulheres trans a receberem o Grammy. Como jornalista e mulher não-branca latina, dar notícias como “Viola Davis é a terceira mulher negra a se tornar uma EGOT” ou “Rosália (uma mulher espanhola) ganha o prêmio de Melhor Álbum de Rock ou Alternativo Latino” deixam um gosto amargo na boca.
Sabemos muito bem que pessoas não-brancas, mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias sociais estão sim entre os melhores em suas determinadas áreas, seja na arte ou não, mas não são valorizados. A indignação não é que “Renaissance” tenha perdido o prêmio de Álbum do Ano. A indignação é que tudo que é autorizado, as minorias são as migalhas: prêmios segmentados e performances que chamam a audiência, mas não recebem o que lhe é de direito.
A culpa não é de Harry Styles, Taylor Swift ou Adele. A responsabilidade é de uma aAcademia que, diferente do que foi dito no discurso do ganhador do Álbum do Ano de 2023, premia pessoas exatamente como ele todos os anos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.