Álbuns produzidos na pandemia: Fetch the Bolt Cutters – Yolo
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Álbuns produzidos na pandemia: Fetch the Bolt Cutters

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Especial Yolo: 

Durante o mês de setembro, o Portal Yolo vai analisar várias obras produzidas durante a pandemia. 

Quem é fã de Fiona Apple tem que esperar para ver os trabalhos da cantora. Em 2012, a cantora lançou o aclamado disco “The Idler Wheel is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do“. Oito anos depois, Fiona anunciou um novo álbum “Fetch The Bolt Cutters” para 2020.

Além do processo lento e intimista que Fiona passa para produzir um disco, Fetch The Bolt Cutters foi impulsionado pela quarentena para se proteger da COVID-19. Ficar em casa, em isolamento social, catalisou a produção do álbum. Ao longo de mais de 5 anos, a cantora brincou com sons de instrumentos, objetos – como os ossos de uma cachorra de Fiona que faleceu – palavras e os barulhos da sua voz e garganta. Palmas, respirações, repetições de palavras e gritos compõem as canções. Esta exploração sonora e fonética unida à autodescoberta resultou na ferramenta de libertação. 

Além de seus antigos colaboradores, como a baterista Amy Aileen Wood, o guitarrista Davíd Garza e Sebastian Steinberg, a cantora contou com a participação da modelo e atriz Cara Delevingne com seus vocais na faixa-título. Os cães da Apple também cederam latidos para o álbum, deixando a sensação de caseiro e íntimo. 

Aliás, o projeto foi produzido todo na casa de Fiona e as primeiras sessões eram gravadas no aparelho eletrônico “GarageBand”, da Apple. Em entrevista a Ailsa Chang, do National Public Radio (NPR), a cantora afirmou que a casa foi uma das partes principais do desenvolvimento do álbum, já que ela sente que o local é como um “útero onde eu me desenvolvi em adulta”. 

 “Eu realmente senti que ela era como um instrumento, o microfone: A casa é o microfone, a casa é o ambiente, a casa é um membro da banda”, contou.

O título do álbum surgiu dois ou três anos antes do lançamento. Fiona conta que estava assistindo a série de TV “The Fall” com sua amiga Zelda, que mora com a cantora, quando aparece uma cena em que a personagem principal entra em uma cena de crime e diz a frase título. 

“É como ‘pegue a ferramenta de libertação. Se liberte’”, explicou Fiona. 

Para Fiona, o álbum é se libertar das “ideias que os outros falaram que ela deve ser” e “todas as ideias que ela tinha sobre ela mesma”. 

Eu realmente não estava pensando sobre minha carreira e como fui retratado na mídia ou qualquer coisa sobre isso, estava apenas pensando em coisas que me foram ditas pessoalmente em minha vida que levei a sério que não deveria tenho; a forma como penso que internalizei muitas das coisas que me diziam, acreditei e, como resultado, me escondi ou me calei 

Fiona apple sobre o álbum “fetch the bolt cutters”

Esta complexidade rendeu a nota de 98 no site Metacritic, na opinião da crítica especializada, e 8.1 na opinião dos ouvintes.

O autoconhecimento e libertação são explorados ao extremo nas letras do disco. Fiona revela que a primeira música, “I Want You to Love Me”, surgiu após seis dias de meditação. Pode parecer uma canção de amor, mas a letra fala sobre a dificuldade de superar traumas.

Fetch The Bolt Cutters” soa como um pedaço da mente de Fiona que ela compartilhou com o mundo. Mas, mais profundo do que isso, ela convida as pessoas a se conhecerem e se libertarem.

“Pegue os alicates, estou aqui há muito tempo”

Em outro olhar, o disco pode ser um manifesto feminista por abordar, com raiva e indignação, momentos que todas as mulheres já viveram na sociedade machista. De forma rasa, liberta-se do que é imposto às mulheres a partir do nascimento. 

Mas, resumir o “Fetch The Bolt Cutters” seria, no mínimo, uma ofensa. A densidade das letras mostra o talento de Apple e como as questões sociais e humanas e psicológicas são vistas por ela. “Heavy Balloon” discute o peso da depressão, enquanto “For Her” aborda um dos momentos mais traumáticos da vida da cantora, o abuso sexual que sofreu na adolescencia. 

“Relay” e “Rack of His” têm sons parecidos com palavras rimando, mas contextos diversos. A primeira aborda o ódio e como este sentimento e “jogado” como um “jogo” entre as pessoas na sociedade. Já a segunda é uma declaração de amor após abandono, que abre o espaço para Newspaper e Ladies. É sobre término, abandono e solidão. Mas, acima de tudo, superação e aprender a lidar com tudo. 

“Shameika”, que ganhou o Grammy de Melhor Música Alternativa de 2020, soa como uma esperança no meio de tanto desespero, como um alívio. A faixa-título, que vem logo em seguida, reforça a ideia de liberdade. Seguir em frente, só para não ficar parado: é a mensagem desesperada de “On I Go”. Essa mensagem fecha o álbum e nos deixa com um gosto de “quero ouvir novamente”. 

A mente brilhante e extraordinária de Fiona Apple nos presenteou com um dos melhores álbuns da década. Sincero, honesto, denso, pesado e coeso: você vai se emocionar e se libertar ao som de Fetch The Bolt Cutters.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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