Música
10 anos do ‘Pure Heroine’, álbum de debut de Lorde
Há uma década, a cantora Lorde lançava o primeiro álbum, que é um mergulho no amadurecimento de jovens no ambiente digital
Com apenas 17 anos, a cantora Lorde lançou um retrato da geração Z. O álbum ‘Pure Heroine’, cujo título diz que ela é uma ‘heroína pura’, é um mergulho nos sentimentos de jovens que cresceram no universo digital. Um misto de alívio e felicidade da autodescoberta com amargo e dor de não ser mais criança.
“Você não acha que é chato a forma que as pessoas falam?”. Com esta pergunta na música “Tennis Curt”, Lorde abre o álbum. Ela escreveu o projeto sozinha, com alguns colaboradores, enquanto ainda morava na Nova Zelândia.
Esse background inspirou bastante a artista, que relata uma vida – ainda – sem luxos e exalta a normalidade. Como na música “Royals”, que fala como ela e os amigos nunca serão “realeza” e contam o dinheiro para a festa.
Um dos pontos do álbum é “Ribs”. Em um especial aos 10 anos do “Pure Heroine”, a Rolling Stone definiu a canção como “uma profetização de Lorde sobre o amadurecimento da geração Tumblr”. A música fala sobre ansiedade e medo de crescer.
O fato de jovens no Tiktok estarem “descobrindo” a música mostra a longevidade e veracidade do projeto. Como pontua a Rolling Stone, são emoções eternas nos jovens.
“Eu nunca me senti tão sozinha. É assustador envelhecer”
“Lorde detalha o desencanto da adolescência dela com a ilusão de tempo – uma fonte finita que às vezes é apresentada aos jovens como um luxo sem fim – com impressionante ressonância emocional em ‘Ribs’. Na última década, um profundo corte fez uma raiz entre uma geração de ouvintes que são agudamente conscientes da rápida fase em que a juventude deles está passando. Ciclos online sem fim e lembretes incessantes da própria mortalidade, e a impermeabilidade do presente, instalada neles como um senso de nostalgia para os mentos que já passaram pelo medo de que eles poderiam escorregar muito rápido. E, de alguma forma, Lorde previu isso”, diz o artigo da Rolling Stone.
A música “Ribs” foi inspirada em uma festa que a cantora deu na casa dela, na Nova Zelândia, quando os pais dela viajaram. No fim da noite, deitada em uma cama ao lado da melhor amiga, Lorde teve uma epifania sobre este medo de crescer – ao mesmo tempo que é impossível voltar a ser uma criança.
Essa temática, como já te contamos, está presente em todas as letras do álbum, como em “A World Alone”, “400 Lux”. Foi com este conteúdo lírico que ela se conectou com uma geração de jovens que se identificam, até hoje, com as músicas.
Visuais
Seguindo o hype do EP “The Love Club”, o primeiro single do álbum foi “Royals”, que recebeu um clipe. A segunda faixa de trabalho foi “Team”, que também teve clipe. Todos eles eram minimalistas, conforme a tendência da época.
A capa do projeto também foi minimalista, com somente o escrito “Pure Heroine” e “Lorde”. Para a Rolling Stone, essas características aproximam, ainda mais, o público do projeto.
“Deixe eles falarem”
O álbum termina com a frase “deixe eles falarem”, na música “A World Alone”. E Lorde deu o que falar no começo da carreira. Sem medo de expressar opiniões, ela criticou gigantes da indústria, como Taylor Swift, com quem formou uma amizade depois.
Em paralelo a Lorde, Lana Del Rey também teve o primeiro “boom” na indústria da música nos primeiros anos da década 2010. Representantes da “estética tumblr”, uma rivalidade, quase inevitável, surgiu entre elas. “No meio do ano passado, comecei a ouvir muito rap, como Nicki Minaj e Drake, assim como cantoras pop como Lana Del Rey. Todos eles cantam sobre abundância – coisas que não se relacionam comigo ou com qualquer pessoa que eu conheça. É completamente irrelevante”, disse em entrevista à Interview em 2013.
“Basicamente, comecei a compor sobre o que todos nós estávamos pensando”
Lorde
As composições de Lorde renderam a ela dois Grammys: “Best Pop Solo Performance” e “Song Of The Year” por Royals. Além da crítica especializada, o projeto também alcançou sucesso comercial e não saiu da boca do público. E como ela disse: “deixa eles falarem”.
Visão do autor
Eu preciso dar o meu relato sobre o “Pure Heroine” – seria injusto esconder de você, leitor, como foi viver essa fase. Comprei o CD aos 13 anos, pouco depois do lançamento, influenciada pelo Tumblr. Eu tinha um antigo rádio, decorado com glitter rosa, e escutava, quase religiosamente, o álbum.
Em viagem a praia, em janeiro de 2014, eu escutei sem parar o primeiro álbum de Lorde. E, mesmo com a diferença de 3 anos, eu sentia que cada letra tinha sido tirada do meu diário ou de alguma conversa com amigas.
Quando cheguei na idade em que Lorde lançou o “Pure Heroine”, aos 17 anos, eu entendi, ainda mais, o que ela queria transmitir ao público. Cada sentimento, seja a felicidade, o extremo, o prazer ou o medo. Tudo estava claro para mim: eu nunca mais voltaria a morar na casa dos meus pais, eu precisaria seguir o meu caminho sozinha e descobrir o mundo – e a mim mesma.
Aos 23 anos, cada letra do álbum soa tão atual quanto há 10 anos. Ainda que eu sinta muita nostalgia, as canções tomam um novo significado no presente. É um filme que eu vivi na última década em que o “Pure Heroine” era a trilha sonora.
Escute o álbum:
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