Lançada em 2009, Glee foi uma série muito popular, com 11 637 273 de espectadores por episódio em média (na sua melhor temporada, a segunda), foi mais do que isso. Glee quebrou padrões da TV mundial, mostrando um casting (para a data de lançamento) bastante diverso e representando muitos adolescentes que se sentiam marginalizados pela sociedade.
Porém, apesar de contar com diversos personagens principais, é inegável que Rachel Berry é a protagonista. Uma cantora incrível, aficionada pelo sucesso e fama, a garota do teatro musical. Ah, ela sofria bullying ocasionalmente também. Mesmo com tantos traços interessantes, Rachel é chata, mas pior do que isso, ela é uma protagonista ruim.
Glee é uma série que começou bem em vários sentidos. Em suas primeiras duas temporadas, a série foi consistente em histórias e em sucesso, ganhando espaço na mídia e especialmente nos rankings de vendas musicais. A terceira temporada teve visões um pouco ruins da crítica, mas ainda assim foi bem recebida. Porém existe algo em comum em todas as temporadas de Glee, mas que se explicita a partir da quarta temporada: tudo é sobre Rachel.
Quando uma série faz tanta questão de que os espectadores se relacionem com a protagonista, é comum que tudo remeta a ela, mas no caso de Glee, isso se tornou algo que levou o show a decair. Isso fica provado quando percebemos que quando a série se tornou mais focada na vida da personagem, a qualidade da história foi diminuindo. Quando se reflete sobre o motivo para isso, não é tão difícil que esse efeito se justifique.
Rachel Berry é mimada e Glee nunca escondeu esse fato. Ela faz verdadeiras birras em vários momentos. Ela sai do coral quando o professor resolve dar um solo para Tina (que coincidentemente é asiática, e muitas vezes reduzida a isso), ela larga o clube quando não concorda com qualquer ação e ela aceita um papel que sabia não merecer (Maria, de “Amor, Sublime, Amor”) em detrimento de Mercedes. Mas o que faz com que o público se veja em um personagem, mais do que simplesmente características físicas, é se relacionar com os desafios daquele indivíduo.
Esse é o problema da Rachel. Ela tem desafios, mas ela nunca realmente lida com eles. Rachel Berry vive, da primeira até a sexta temporada de Glee, uma vida sem consequências. (Até mesmo quando a personagem perde tudo pelo que lutou, o destino faz com que dê tudo certo e ela não sofra por isso há longo prazo.) Ok, em vários momentos isso não é algo exclusivo dela, acontece com outros personagens, mas pra Rachel, é uma constante.
Desde o começo de Glee, Rachel não tem que lidar com nenhuma das consequências das diversas ações questionáveis que ela comete. Um ótimo exemplo da dicotomia entre Rachel e outros personagens é a comparação de um acontecimento simples em diferentes temporadas. No episódio “Hello”, da primeira temporada, Rachel não faz a lição do clube do coral corretamente. De propósito, ela canta uma música que foge da lição para irritar Finn. Nada acontece além de um puxãozinho de orelha do professor Will.
Já na quinta temporada, Marley (também conhecida como a “nova Rachel”), se recusa a usar uma roupa reveladora para uma performance pois não estava confortável. A roupa fazia parte da lição, e ela é suspensa. Essa comparação pode levar ao fato de que Will é um professor ruim, mas não temos tempo pra desembolar isso.
O ponto é que Rachel, em diversos momentos de Glee, simplesmente não recebe punição sobre o que faz. Ela sempre consegue o que quer. Ela sofre para realizar os seus sonhos, e isso faz parte da construção de uma personagem que desde o começo demonstrava que faria o que fosse necessário para alcançar seus objetivos. Ela aprende sim com seus erros, mas muito facilmente volta a agir da mesma maneira. Porém, como uma série que inspirou e representou tantos indivíduos em formação de caráter, essa personagem tem um problema moral, além de um problema de narrativa.
A maneira como Rachel é escrita (e interpretada) e seus defeitos ultrapassam a linha que demonstraria a humanidade da personagem, chega a fazer com que o público a odeie. Os problemas morais de Rachel vão além. O talento da personagem vira uma desculpa para que ela e quem está ao redor justifique os absurdos que ela faz para chegar ao topo. Como no episódio em que Rachel manda uma colega para uma casa de crack por medo de que ela tome seu lugar como vocalista principal. E nada acontece com Rachel. Ela só pede desculpa.
Rachel é uma personagem chatinha, difícil de aguentar, mas o pior é a forma como a série decide mostrar que, no fim, ela só se esforça muito. Mesmo quando Rachel perde tudo, em grande parte por não valorizar a realização de seus sonhos, de alguma forma ela ainda tem apoio o suficiente para retomar o clube do coral. Seu melhor amigo, Kurt (que demonstra ser bem mais responsável sobre a faculdade e efetivamente sofre as consequências do que faz) vai para Ohio ajudar Rachel no coral como um “estágio” e mesmo assim ela age como se fosse melhor do que ele ou soubesse mais.
A minha questão principal de Rachel não é o fato de que ela conseguiu tudo o que queria sem a história fazer o mínimo sentido. Como o fato dela conseguir o papel de seus sonhos na Broadway SEIS MESES depois de se formar no ensino médio (e se cansar dele extremamente rápido). E sim o fato de que Rachel Berry passa a mensagem de que: independente do quanto você seja inconveniente ou até mesmo perigosa, contanto que você seja talentoso, esforçado ou bonito o bastante, você pode fazer o que quiser e nada vai acontecer.
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