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“The Archetypes”: conheça os arquétipos do universo de Electra Heart, da MARINA

Dona de casa, Rainha da beleza, Destruidora de lares e Adolescente desocupada: Electra Heart mostra quatro “estereótipos” femininos ao mesmo tempo que critica o machismo na sociedade

Caso você tenha usado o Tumblr no início da década passada, o nome “Electra Heart” talvez não soe incomum para você. Em 2012, a cantora e compositora MARINA, que usava o nome Marina and The Diamonds na época, lançou o seu segundo álbum de estúdio “Electra Heart”. O disco foi um fenômeno na cena underground da música e ficou popular nas redes sociais, como o Tumblr.

O álbum conta a história de um alter ego da cantora, a Electra Heart, que lida com corações partidos (seja o dela ou de quem ela quebrou) e questões internas, como depressão e ansiedade. Com a estética inspirada nos anos 40 e 50, levando Marilyn Monroe e Madonna como ícones, Electra se dividiu em quatro arquétipos femininos para contar a sua história. 

Para narrar a história do alter ego, Marina produziu uma série de 11 vídeos com músicas do álbum e poemas. A terceira parte se chama “The Archetypes”, uma poesia que fala mais sobre a personalidade de Electra. 

Assim, o público foi apresentado aos quatro arquétipos: a dona de casa, a rainha da beleza, a destruidora de lares e a adolescente desocupada:

Poema “The ARCHETYPES” no canal oficial da Marina no YouTube

“Rainha sem identidade

Eu sempre me sinto como outro alguém

Um mito vivo

Eu cresci em uma mentira

Eu posso ser qualquer um (qualquer um)

Um estudo em identidade e ilusão”

“Através dos outros, nós nos tornamos nós mesmos”

Frase do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky dita no poema “THE ARCHETYPES”

Inspirações

As principais referências para a história da Electra são as tragédias gregas e o “sonho americano”. No álbum “The Family Jewels”, a cantora já trabalhava com críticas sociais e discutia saúde mental. Mas, esses temas foram abordados de outra maneira com o Electra Heart. 

Em 2010, logo após as promoções do “The Family Jewels”,  Marina contou, em entrevista, que sentia vontade de fazer um trabalho inspirado na mitologia grega. Aos 16 anos, a cantora morou na Grécia com o seu pai. Assim, a cantora começou com a produção do projeto que seria conhecido como “Die Life”. Porém, como a gravadora gostaria de um álbum, o conceito foi retrabalhado para o Electra Heart. “Chamei meu agente em abril de 2011 e disse ‘Olá. Posso fingir ser uma pessoa totalmente diferente?’ Ele disse ‘Não. Você não pode'”, contou.

“Electra” tem o mesmo significado que o meu nome do meio, Lambrini, que significa ‘aquele que é cheio de luz’. E Heart é sobre ser “desligada” do amor e ser muito orgulhosa para admitir. (…) Electra Heart pode ser traduzido como “luz do coração” ou “coração iluminado” que significa divertido e interessante.

MARINA, ao explicar o significado do nome do álbum e da personagem

Já em 2012, a cantora tuitou sobre um trabalho chamado “The Archetypes“. “Os arquétipos são divididos em quatro categorias: “Su-Barbie-A”, “Teen Idles”, “The Homewrecker” + “Stars & Queens”. 

Unindo essas duas inspirações com o conceito Tumblr, Marina desenvolveu a estética de Electra Heart:

Eu estava começando a pensar sobre a nossa geração Tumblr, e como as fotos aparecem no Tumblr e as pessoas tornam-se quase como mini-estrelas da internet, e você não sabe quem diabos eles são – eles são apenas rostos anônimos. Então eu comecei a tirar fotos, e fiz um esforço para parecer completamente diferente em cada uma, em diferentes hotéis e apartamentos em toda a América, quando eu estava viajando. E ela só começou a construir a partir disso.

Foi mais o arquétipo Primadonna no início, realmente; Eu estava lendo um monte de livros como Hollywood Babylon, concentrando-se mais no lado fofoqueiro, suicida dos anos 30 e 40 em Hollywood. Foi assim que tudo começou, e então ele se transformou em um projeto real. Eu só queria fazer um artifício por amor. Estamos tão familiarizados com a ideia de amor em canções pop, mas eu não queria que se enquadram nessa categoria tipo de clichê. Então eu pensei que eu iria criar Electra Heart.Marina and the Diamonds

Marina em entrevista ao The Irish Time

O que são arquétipos?

Segundo o psicanalista suíço Carl Gustav Jung, arquétipos “representam o primeiro modelo de algo, protótipo, ou antigas impressões sobre algo”. Ou seja, um padrão de comportamento que é repetido pela sociedade. 

O conceito de arquétipo é inspirado na Teoria das Ideias, de Platão. Assim, cada ser humano já nasceria com “ideias, ou os chamados eidos platônicos, que eram formas mentais puras  impressas na alma antes de nascer no mundo”. Assim, Jung uniu as ideias platônicas com a psicanálise de Freud, formando, assim, os arquétipos do inconsciente.

No livro O Homem e seus Símbolos, Jung explica:

Minhas visões sobre os “remanescentes arcaicos”, que chamo de “arquétipos” ou “imagens primordiais“, têm sido constantemente criticadas por pessoas que carecem de conhecimento suficiente da psicologia dos sonhos e da mitologia. O termo “arquétipo” é muitas vezes mal interpretado como significando certas imagens ou motivos mitológicos definidos, mas nada mais são do que representações conscientes. Tais representações variáveis não podem ser herdadas. O arquétipo é uma tendência a formar essas representações de um motivo – representações que podem variar bastante em detalhes sem perder seu padrão básico.

Os arquétipos se originam da expressão do inconsciente coletivo em nós, modelando nossa existência, se tornando um padrão de comportamento, caracterizando nosso modo de vida e jeito de ser*”.

*citação de DEISE AUR, Green Me Brasil

Os arquétipos da Electra Heart

Housewife/ Su-Barbie-A

O primeiro arquétipo mostra o estereótipo da “dona de casa”. Uma boa esposa e mãe de família que cuida do lar. Na vida da personagem Electra Heart, a Housewife também é dita na poesia Su-Barbie-A. O termo é uma mistura de “Barbie” e “subúrbio”.

Ou seja: a Su-Barbie-A seria uma dona de casa de um subúrbio. 

Em Su-Barbie-A, Marina une comerciais de Barbies dos anos 60/70 com frases de filmes e séries. “O que eu faço com a minha Barbie antiga?”, “Se você me disser que não gosta do meu vestido, eu vou colocar a minha cabeça no forno” e “Eu não gosto de chá, eu gosto de gin” são exemplos de frases do vídeo. 

Em entrevista à BBC, Marina contou que gostaria de mostrar o lado “sombrio da vida de uma dona de casa do suburbio”. Dessa forma, a poesia soa como uma crítica a este arquétipo que valoriza a vida “perfeita”. Assim como a Barbie, as “donas de casas” devem seguir um padrão estético para serem bonitas e aceitas por seus respectivos parceiros. 

Beauty Queen/ Primadonna

A “Rainha da Beleza” é o arquétipo de uma mulher forte, poderosa mas tem um alto nível de autodestruição. A palavra Primadonna vem do italiano “primeira mulher”. O termo era usado nas óperas mas também pode significar uma mulher egocêntrica, narcisista, egoísta e exigente. 

Na canção “Primadonna”, Marina canta:

“Tudo o que eu sempre quis era o mundo

Não posso evitar precisar de tudo

A vida de “primadonna”, a ascensão e a queda”

A música trabalha essa dualidade de almejar atenção e os bens materiais enquanto vive ao extremo e se “destrói”. 

Homewrecker

Li uma citação que dizia que para evitar as destruidoras de lares, você tinha de se tornar uma. Foi por onde comecei. Quando um relacionamento termina, você sente que nunca mais quer sair com outra pessoa novamente

Marina

Uma mistura de estar com o coração partido mas quebrar o coração do outro: esta é a definição da destruidora de lares. “Eu quebro vários corações só por diversão / Eu não pertenço a ninguém / Eu sou a imagem da decepção”.

A música soa como um poema que fala sobre essas desilusões amorosas que a personagem sofreu durante a vida. Para não ter o seu coração quebrado, quebre o da pessoa primeiro.

É vergonhoso admitir isso, mas a autopreservação faz seu papel e te levar a pensar, ‘Se não quer que seu coração seja partido novamente, você tem de se tornar a pessoa que parte os corações’

Marina

Teen Idle

Um copo de bebida na mão, coração quebrado e comportamento imprudente: a adolescente ociosa (Teen Idle). O arquétipo é descrito como uma pessoa sarcástica, dramática, extrovertida, divertida e rebelde. Podemos descrevê-la como algum personagem de Skins.

As canções são Bubblegum Bitch, Living Dead, Radioactive e Teen Idle. A música que leva o nome do arquétipo fala, principalmente, sobre a fase da adolescência em que a pessoa vai se descobrindo, porém criando um padrão de autodestruição. A Electra até diz que gostaria de voltar à época que era jovem para viver tudo outra vez. 

Ana Raquel Lelles

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